A paz na Terra começa com a paz de espírito
Eram os primeiros meses do confinamento causado pela covid-19, e os alunos da escola Douglas Ewart High School, em Newton Stewart, na Escócia, estavam tendo dificuldade em lidar com a situação. “Eles nos procuraram e disseram que estavam sofrendo muito com seus sentimentos e pensamentos durante a pandemia”, lembra Jean Best. “Eles queriam criar um kit de recursos para todos os jovens da escola.”
Felizmente, Best, que teve uma longa carreira como professora e diretora, tendo sido uma das Inspetoras de Educação de Sua Majestade, estava em posição de ajudar. Em 2014, na Convenção do Rotary International em Sidney, Austrália, ela e seu marido, Keith, inauguraram um programa chamado Peace Advocate Project, ou Projeto Defensor da Paz, em tradução livre. Rotarianos dedicados – ambos são associados do Rotary Club de Hub of Southern Scotland e Keith é ex-governador do Distrito 1020 –, eles queriam garantir que os jovens da comunidade e de todo o mundo estivessem preparados para servir como embaixadores da paz. Trabalhando com bolsistas do Centro Rotary pela Paz da Universidade de Bradford, na Inglaterra, eles criaram um programa que os ajudaria a alcançar esse objetivo.
Por seus esforços, Best foi homenageada em novembro de 2017, quando associados do Rotary se reuniram no Palais des Nations, em Genebra, para o Dia do Rotary na ONU. Lá, ela e outros cinco homens e mulheres foram designados Pessoas em Ação: Campeões da Paz. Em seu discurso para uma plateia animada, Best proclamou: “Sem a paz interior, nunca conseguiremos promover a paz global”.

Foto cedida por: Duncan McGlynn
Com seu foco na serenidade individual como base para a harmonia mundial, Best estava bem-preparada para ajudar os alunos afetados pelos desgastes emocionais que acompanharam o confinamento durante a pandemia. Ao que tudo indica, os alunos que entraram em contato com Best já estavam bem-posicionados para fornecer a ajuda de que eles e seus colegas precisavam.
“Durante a covid”, explica Best, "continuamos trabalhando pelo Zoom com nossos defensores da paz na escola Douglas Ewart. Eles estavam preocupados porque não sabiam o que fazer. Não havia nada no currículo escolar que os treinasse para lidar com o que estavam passando. Mas eles também disseram: ‘Se não tivéssemos sido treinados em defesa da paz, as coisas teriam sido bem piores’".
Trabalhando em estreita colaboração com o casal Best e reaproveitando o que haviam aprendido em suas sessões de defensores da paz, os estudantes começaram a montar seu kit de recursos. “Para ajudar todos os outros alunos, eles publicaram posts diários na página da escola no Facebook sobre temas como, por exemplo, formas de conversar com os pais”, diz Jean Best. "Todos os tipos de assuntos surgiram, e eles fizeram isso por quase um ano. Foi um trabalho fenomenal."
Best destaca um vídeo curto produzido por um jovem de 16 anos. “Era sobre o poder da mente e como ela funciona”, explica ela. "Esse foi o material que mais ajudou os alunos a perceberem como estavam reagindo à pandemia. E como ele dava dicas e sugestões, o vídeo também mostrou o que poderiam fazer para resolver seus problemas."
Jean Best
- Projeto Defensor da Paz, 2014-presente
- Pessoas em Ação: Campeã da Paz, 2017
- Presidente da Comissão de Bolsas Rotary pela Paz do Distrito 1320, 2024-25
Quando as coisas começaram a voltar ao normal, Best reuniu as postagens e criou uma nova faceta virtual do Projeto Defensor da Paz. “Os alunos não queriam chamá-lo de programa de saúde mental”, conta. "Eles queriam que ele fosse conhecido como um programa de autocuidado, porque afirmam que isso é fundamental para a sobrevivência. 'Se conseguirmos adquirir o hábito de cuidar de nós mesmos', eles argumentaram, ‘então poderemos começar a ajudar outras pessoas’. O que é ótimo, pois o Projeto Defensor da Paz tem como objetivo ajudar no empoderamento juvenil".
Esse foi um dos pontos positivos da pandemia, mas havia um lado ruim. Com o fechamento das escolas, o projeto de paz perdeu parte de seu ímpeto, deixando de se firmar em algumas das escolas onde havia estabelecido uma presença. “Mesmo quando as escolas começaram a reabrir, não pudemos voltar porque todos estavam muito ocupados recuperando o atraso”, diz Best. “Embora a covid tenha sido um pequeno retrocesso, ela abriu algumas novas portas para nós.” À medida que o projeto se restabeleceu nas escolas do Reino Unido, a transição para o Zoom ajudou a expandir o seu alcance para outros países, incluindo Austrália, Japão e México.
Best está especialmente orgulhosa de um novo programa on-line que conectou duas escolas na Escócia com duas no Quênia. “Treinamos todos os jovens ao mesmo tempo”, relata. "Os alunos de cada uma das escolas podiam se ver enquanto realizavam as atividades. Foi só uma questão de construir pontes entre os dois países."

Jean Best celebra seu Projeto Defensor da Paz na Irlanda em 2024.
Foto cedida por: Jean Best
À medida que o mundo saía do casulo da covid, Best e seu marido continuaram a expandir o projeto. Somente neste ano, eles acrescentaram três novos programas, inclusive um para ajudar pais de alunos do ensino médio a se comunicar com seus filhos. O programa foi particularmente impactante quando apresentado a pais ucranianos que haviam se estabelecido no Reino Unido com seus filhos. “Expusemos todas as nossas técnicas de defesa da paz em relação a ouvir e iniciar conversas, e isso funcionou muito bem”, diz Best. "Depois disso, uma mãe veio até nós com lágrimas nos olhos. Ela disse: 'Não tenho palavras para agradecer a vocês. Eu tinha perdido meu filho e, graças ao programa, consegui recuperá-lo', porque agora eles tinham conversas calmas, significativas e constantes."
Como no passado, Best continua apresentando sua apurada abordagem de escuta atenciosa, conversas proveitosas e resolução de conflitos a outros associados para uso dentro e fora do Rotary. Jane Cooper, governadora do Distrito 1210 (Inglaterra) em 2024-25, elogia o trabalho realizado na região. “Jean e Keith trabalharam com nossos administradores distritais e associados, e o feedback foi excelente”, diz Cooper.
No final, Best enfatiza o impacto de longo prazo do Projeto Defensor da Paz e seu foco principal. “É um programa realizado por jovens para jovens”, afirma ela. “Acreditamos fortemente que, uma vez treinados em defesa da paz, os jovens continuarão usando essas habilidades nos próximos anos.”
Artigo publicado originalmente na edição de agosto de 2025 da revista Rotary.
Esta matéria faz parte de uma série ocasional que homenageia os ganhadores do prêmio Pessoas em Ação do Rotary.
Artigos relacionados
Retired exec profits from empowering others: Stella Dongo (apenas em inglês)
Using technology as a force for good: Beth Simone Noveck (apenas em inglês)
A pioneer in Black horror fiction: Tananarive Due (apenas em inglês)