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Rotary: hortas mandala impulsionam pequenos produtores no Paraná

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Até poucos anos atrás, a vida de Vanderlise Schenkel era no comércio, vendendo sapatos de marcas luxuosas, como Carmen Steffens e Jorge Bischoff. Hoje, ela é um dos 12 pequenos produtores rurais beneficiados pelo projeto Horta Mandala: Vida Saudável, do Rotary Club de Toledo-Pioneiro, no município de Toledo, Paraná. Lisa, como é conhecida na cidade, trocou os scarpins por verduras e legumes, em uma iniciativa que vem mudando a forma de produzir nessa pequena cidade no sul do país.

Lisa largou o comércio e adotou a vida rural para ajudar seus pais, que apresentavam problemas de saúde. Precisando tomar conta de um negócio no qual não tinha experiência, ela ficou sabendo do projeto de hortas mandala do Rotary e entrou em contato para participar. Hoje, graças ao projeto, ela tem um faturamento 30% maior.

Antes de seguirmos com a história de Lisa, porém, vamos entender o que é uma horta mandala e por que esse tipo de produção é diferenciada. Em formato de círculos, a horta mandala é inspirada no sistema solar. Pode ter até nove anéis e, no centro, conta com um galinheiro, um tanque de peixes ou poço artesiano. É um sistema agroecológico, autossustentável e que não tem controle químico. A horta mandala permite a rotação de culturas, mantém a terra mais saudável e, por poder ser montada em espaços menores, permite um maior aproveitamento da terra.

A primeira horta mandala da cidade fica no Colégio Agrícola Estadual de Toledo e é parte dos estudos dos alunos da instituição. A horta escolar, no entanto, precisava de manutenção e faltavam recursos para isso. Foi aí que, em 2019, o Rotary Club de Toledo-Pioneiro entrou na história e acabou levando a horta do colégio para outros produtores.

“O Colégio precisava de verba para recuperar sua própria horta mandala”, conta Edison Pagnozzi, rotariano que liderou o projeto. Para essa iniciativa, o Rotary Club de Toledo-Pioneiro juntou-se ao Rotary Club de Bolívar, na Argentina, e também contou com recursos da Fundação Rotária. “A recuperação da horta mandala do colégio foi o início do projeto”, explica Pagnozzi.

Com investimento de US$ 33.950 e a consultoria técnica de professores e alunos do Colégio Agrícola, foi possível levar a horta para outros produtores da cidade, como a Lisa, do começo da nossa história.

A mandala e a economia

Para fazer a roda da economia dos pequenos produtores girar, os círculos da mandala também precisam ser bem organizados. Para isso, a instrução do Colégio Agrícola Estadual de Toledo foi fundamental. Na parceria com o Rotary Club de Toledo-Pioneiro, professores e alunos visitavam os agricultores selecionados pelo projeto para ensinar como a horta mandala deveria ser implementada.

Há toda uma estrutura na escolha dos cultivos plantados em cada anel. Começando pelos anéis maiores, de fora, pode-se plantar culturas como tomate-cereja, pepino, pimentão, pimentas e berinjela. Nos círculos do meio, temos folhosas e plantas aromáticas, que ajudam a evitar certas pragas. Essa mistura pode incluir alface, alecrim, almeirão, tomilho, chicória e repolho. Já nos círculos menores, planta-se temperos como cebolinha, salsão e coentro.

O galinheiro, colocado no centro da horta, também tem uma função importante. As galinhas ajudam a controlar os insetos que atacam as plantações. Além disso, seus dejetos são usados como adubo, assim como as cascas de ovos que acabam se quebrando e fornecem cálcio para a plantação. Os ovos inteiros são vendidos pelos produtores. Para completar o sistema, há ainda um cordão vegetal, que são culturas plantadas na lateral da horta mandala (fora do círculo), prevenindo a erosão do solo e atuando como uma barreira contra ataques de insetos.

  1. Projeto do Rotary ajudou Lisa a aumentar sua renda em 30%

  2. Horta mandala do Colégio Agrícola Estadual de Toledo: inspiração no Sistema Solar

  3. Galinheiro também ajuda no controle de pragas

  4. Elenice vende sua produção para restaurante local

  5. Elenice e o rotariano Edison: parceria para implementação da horta mandala

Vendas pela internet

Botas e sandálias de couro não fazem mais parte das vendas da Lisa. Hoje, ela produz e comercializa produtos como alface, almeirão, rúcula, couve, beterraba, cenoura, berinjela, acelga, cebolinha, couve-flor, repolho, vagem e quiabo, entre outros.

“A gente produz tudo o que é de época, porque não usamos agrotóxicos ou produtos químicos”, ela diz. Suas vendas são feitas diretamente aos consumidores, que fazem as encomendas pelo Instagram, seu principal canal de divulgação. “Eu uso muito as redes sociais”, destaca. “Cada dia, eu tenho um cliente novo”.

Para sua clientela habitual, ela envia uma lista por Whatsapp com os produtos disponíveis, o cliente escolhe e ela faz a entrega, duas vezes por semana. “Com o delivery, não existe sobra de produto”, explica.

Com a implementação de sua horta mandala, que custou cerca de R$ 8 mil, Lisa também aderiu à produção orgânica certificada. Hoje, ela é parte da Rede de Agroecologia Ecovida, que certifica que seus produtos seguem os parâmetros da produção sem agrotóxicos. A qualidade de seus produtos também faz aumentar as suas vendas. “O boca a boca é a principal propaganda”, comemora.

Além das entregas diretas aos consumidores, Lisa também fornece suas verduras e legumes para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que adquire produtos da agricultura familiar para as merendas escolares.

Lisa diz que, atualmente, seu faturamento gira em torno de 6 a 7 salários mínimos. A mudança de vida, do comércio para o campo, trouxe mais renda e também mais satisfação. “Existe o antes e o depois. A horta, além de ser nosso ganha-pão, porque é nossa fonte de renda, me trouxe mais qualidade de vida”, afirma.

Pelas ondas do rádio

Elenice Caetano teve uma horta convencional por quase dois anos. A produção, que era feita para consumo próprio e cujo excedente era todo vendido a um único restaurante local, era pouca. Assim, ela estava quase perdendo seu único cliente por não conseguir fornecer o que ele precisava.

Foi aí que ela ouviu no rádio sobre o projeto de hortas mandala do Rotary, e que tudo começou a mudar. “Encaixou no que eu estava fazendo, vi que beneficiava o pequeno proprietário dando ajuda financeira, e era o que eu precisava. Liguei, falei com o Edison e eles vieram fazer a visita”, conta.

A partir daí, foram três meses para a implementação da horta, que custou cerca de R$ 6,5 mil, tudo financiado pelo projeto do Rotary Club de Toledo-Pioneiro. Assim, Elenice passou de uma produção de alface, rúcula e cheiro-verde, para uma horta que também produz repolho, beterraba, cenoura, tomate, alho-poró, couve e cebolinha para conserva, entre outros produtos. “Aumentou bem a variedade”, ela destaca.

Os ovos produzidos no galinheiro também servem para consumo da família e para venda. Hoje, além de continuar fornecendo ao restaurante que fica no centro de Toledo, Elenice vende para pessoas da comunidade.

Segundo ela, com a horta mandala que começou sua produção no final do ano passado, o faturamento de sua família aumentou 70%. Com isso, ela já faz planos para o futuro, quando o marido se aposentar e puder dedicar mais tempo à horta do casal. “Eu poderia aumentar a variedade e o espaço de produção”. Atualmente, a horta de Elenice tem quatro anéis, o que ainda permite a implementação de outros cinco.

Depois de quase perder seu único cliente e ter sua pequena produção remodelada pelo projeto do Rotary, Elenice se mostra muito satisfeita com as mudanças que a horta mandala trouxe para sua vida. “Para mim, mudou muito, mudou tudo, porque, agora, eu tenho a minha renda fazendo o que eu gosto”, completa.

O rotariano Edison também está feliz com os resultados que tem visto. “Aqui em Toledo, o projeto repercutiu muito, foi muito bom. Um produtor vê uma horta e já corre atrás da gente para saber como fazer, e todos os produtores que têm sua horta funcionando já se desenvolveram economicamente”.