Skip to main content

Rotary Clubs do Líbano unem uma nação por meio de um projeto hídrico

Por

Em uma escola no norte do Líbano, os alunos fazem fila para beber a água das torneiras e lavar as mãos nas pias. Trata-se de um luxo que já foi raro para crianças em idade escolar de uma região tão próxima às montanhas cobertas de neve que abastecem grande parte da água do país. 

“Antes, a água estava contaminada com muitas bactérias”, explica Nabila Babetti, diretora da escola de ensino médio Adnan al-Jisr, em Trípoli, a segunda maior cidade do país. Os alunos dependiam de água engarrafada, que era cara demais para a maioria das famílias. Alguns ficaram doentes ao beberem a água não potável e tiveram que perder vários dias de aula.  

Em 2022, um novo sistema de filtragem de água foi instalado na escola com financiamento de um Subsídio Global concedido aos Rotary Clubs de Tripoli Cosmopolis e de Genève International, na Suíça. “Agora, menos alunos faltam às aulas. O projeto facilitou bastante as coisas”, diz Babetti. Funcionários da escola ficaram aliviados, especialmente mediante um surto de cólera no norte do Líbano no ano passado, o primeiro do país desde 1993. “Estamos ansiosos para cooperar com o Rotary em todos os futuros projetos, especialmente aqueles relacionados à saúde”, diz Babetti.

Uma menina bebe água de uma torneira em uma escola no norte do Líbano que conta com um sistema de filtragem de água recém-instalado.

Foto cortesia de Rym Dada-Husseini

Em 2013, dezenas de Rotary Clubs no Líbano se uniram para apoiar um projeto financiado por Subsídio Global que levou água potável a quase todas as escolas do país em parceria com grupos não rotários e ministérios do governo libanês. Em maio, a última das mais de mil escolas beneficiadas pela iniciativa recebeu filtros e tanques de água. 

O Líbano tem fontes de água relativamente abundantes para um país do Oriente Médio, mas o acesso a água potável tem sido um problema há anos como decorrência da infraestrutura antiquada e má administração. A água que desce das montanhas e alimenta os rios é poluída por lixo, resíduos industriais ou escoamento agrícola. Até mesmo a água municipal tratada é frequentemente contaminada antes de chegar às torneiras devido a canos corroídos ou tanques de armazenamento contaminados. A chegada de refugiados sírios sobrecarregou ainda mais os recursos. 

Então, quando Jamil Mouawad, associado do Rotary Club de Zgharta-Zawié, estava se preparando para assumir o cargo de governador em 2013-14 e procurando um “megaprojeto” que pudesse gerar impacto generalizado e duradouro, a água rapidamente se tornou uma prioridade. Alguns Rotary Clubs no norte do Líbano já haviam instalado tanques e filtros de água nas escolas. Depois de se reunir com líderes governamentais e de organizações, Mouawad formou uma comissão que viu o potencial de ampliar a iniciativa em todo o país. “Quando começamos, nosso intuito era fazer isso em três anos”, lembra Mouawad. “Não foi fácil implementar um projeto deste porte e acabamos levando oito anos para fazer isso acontecer. Mas, no final, foi uma grande conquista.”

O desenho de um estudante lembra os colegas de economizarem água ao escovar os dentes.

Foto cortesia de Rym Dada-Husseini

Depois de 20 Subsídios Globais, cerca de 600.000 crianças em idade escolar no Líbano, metade das quais são filhos de refugiados sírios, bem como os pais e professores dos estudantes têm acesso à água potável. 

Mas, o projeto forneceu mais do que apenas água: ele também semeou sementes de paz em uma terra dilacerada pelo conflito. A guerra civil do Líbano, travada em grande parte devido a divisões sectárias de 1975 a 1990, deixou o país profundamente dividido. Hoje, 18 seitas religiosas reconhecidas competem pelo poder em um sistema político fragmentado e com a interferência quase constante de países vizinhos.  

O projeto foi deliberadamente concebido para promover a cooperação entre diferentes facções, fazendo com que Rotary Clubs de várias partes do país trabalhassem juntos para instalar sistemas de água nas escolas do norte e do sul.  

“O que é bom sobre o Rotary é que não lidamos com religião ou política”, diz Rym Dada-Husseini, ex-presidente do clube Trípoli Cosmopolis, que liderou dois dos Subsídios Globais. “Nós lidamos uns com os outros como seres humanos. Juntos, somos uma grande família e queremos fazer o melhor para este país. Isso é o que nos uniu e o que continua nos unindo.” 

Mouawad diz que a capacidade do Rotary de trabalhar em conjunto e fazer as coisas acontecerem fez com que outras entidades no país e a população confiassem em nossa organização. “O Rotary construiu uma reputação tão boa que, quando abordamos uma grande instituição, eles estão prontos para nos ajudar”, explica ele.

Em números

  1. US$ 1,75 milhão

    Total do Subsídio Global outorgado para o projeto

  2. Mais de 1.000

    Número de escolas beneficiadas

  3. 48%

    Parte da população do Líbano com acesso a água administrada de forma segura

O projeto não poderia ter chegado em melhor momento. Além da pandemia de covid-19, um colapso econômico mergulhou grande parte do país na pobreza, com 90% de desvalorização da moeda local em dois anos.  

A partir de 2019, devido às novas medidas fiscais, dezenas de milhares de manifestantes foram às ruas para pedir direitos sociais e econômicos, e o fim da corrupção. Uma explosão em 2020 no Porto de Beirute, que matou mais de 200 pessoas e deixou 300 mil desabrigados, alimentou ainda mais as tensões. E, mais recentemente, uma crise energética deixou a maioria das casas com apenas uma ou duas horas de eletricidade por dia. A turbulência tornou o acesso à água potável ainda mais difícil para milhões de pessoas. A situação era tão grave que em 2021 o Unicef alertou que o sistema de água do país estava à beira do colapso. 

Muitas pessoas perderam a esperança de que o governo possa resolver os crescentes desafios do Líbano, diz Dada-Husseini. “Muitos já deixaram o país”, diz ela. “O que nos anima a continuar trabalhando é a sensação de que estamos mudando a vida das pessoas.” O impacto do projeto hídrico, por exemplo, se estende além dos estudantes. Segundo ela, as escolas agora estão entre as fontes mais confiáveis de água limpa para as famílias, e muitos estudantes enchem garrafas para levar para casa. 

O projeto do clube Tripoli Cosmopolis, uma das peças finais da iniciativa, envolveu escolas no norte do Líbano e na área de Saúde, no sul do país. O Water for Life, um serviço de tratamento de água em Beirute, instalou tanques de plástico reforçados com fibra de vidro de camada tripla para substituir os de aço galvanizado corroídos.

Um tanque no telhado fornece água filtrada para torneiras no nível do solo.

Foto cortesia de Rym Dada-Husseini

A água é bombeada da fonte municipal para um tanque e tratada periodicamente com pastilhas de cloro. A seguir, essa água passa por um filtro inicial para remover sólidos suspensos e por um filtro de carbono para eliminar o cloro, antes de passar por um esterilizador ultravioleta para desinfecção. A água acaba no tanque de plástico, montado em altura suficiente para que a água, sob o efeito da gravidade, possa fluir até as torneiras e fontes no nível do solo, caso não haja eletricidade.  

Para garantir a sustentabilidade, os Rotary Clubs pediram que as escolas e os municípios assinassem acordos para substituição dos filtros duas a três vezes por ano. O Ministério da Educação emitiu um memorando para todos os diretores escolares avisando que deveriam permitir o acesso para testes e incluir fundos em seus orçamentos para a reposição dos filtros.  

Jad Gerjes, ex-coordenador sênior de água, saneamento e higiene da World Vision, foi contratado para avaliar as necessidades de cada escola e testar a água antes e depois da instalação dos sistemas. Ele também monitora os resultados dos testes feitos pela própria escola durante o primeiro ano. 

O comitê que administra o projeto hídrico quer fornecer painéis solares para as escolas como uma maneira de contornar a falta de eletricidade que ameaça as operações escolares normais. Mas, o foco principal continua sendo garantir a sustentabilidade a longo prazo dos sistemas de água. 

“Vamos continuar com este projeto até o fim”, diz Mouawad. “As crianças são agentes de mudança para toda uma comunidade. Eu costumava participar das inaugurações dos sistemas de água e me sentia muito feliz toda vez que via as crianças bebendo água limpa. Vejo em seus olhos o que todo rotariano quer ver: felicidade, confiança, esperança. Isso mostra para mim a importância do que estamos fazendo.”

Artigo publicado originalmente na edição de fevereiro de 2023 da revista Rotary.

Descubra como o Grupo Rotary em Ação pela água, saneamento e higiene (WASH) apoia e garante programas sustentáveis em comunidades necessitadas. 

Saiba mais