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Onde eles estão agora?


Embaixadora da paz 

Lorelei Higgins, a atual Mrs. Canada Globe, é uma diplomata de base com ancestralidade indígena e pedigree rotário

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Em novembro de 2020, Lorelei Higgins estava em Las Vegas se preparando para competir no concurso de beleza Mrs. Canada Globe. Em uma reunião antes do evento, um funcionário todo arrogante deu às concorrentes instruções muito específicas: "Não quero que ninguém vá até lá e fale sobre a cura do câncer ou a paz mundial, porque nenhuma de vocês jamais fará isso".

A reação de Higgins? "Perdão, mas eu vim aqui para fazer exatamente isso."

E foi precisamente o que a mãe de dois filhos, da cidade de Calgary, no estado de Alberta, fez. Aos 39 anos, ela subiu ao palco, falou sobre a paz mundial e acabou ganhando o concurso, tornando-se a Mrs. Canada Globe. Ela usa essa plataforma para promover a busca da paz como filosofia de vida, enquanto celebra sua herança indígena em um país que passa por uma reconciliação desafiadora com os descendentes da população nativa de lá.

O que aquele funcionário do concurso não sabia era que, em se tratando da arte da paz, Higgins – beneficiária de Bolsa Rotary pela Paz, consultora da Mediadores Sem Fronteiras, embaixadora do Instituto para Economia e Paz, e, na época, estrategista do escritório de Relações Indígenas de Calgary — possuía um conhecimento especializado sobre o assunto.

No átrio da prefeitura de Calgary, Lorelei Higgins usa uma faixa tradicional do povo indígena métis.

Paul Swanson

Sua jornada começou no ensino médio em Spruce Grove, a oeste da cidade de Edmonton. Como ela queria passar mais tempo estudando teatro, decidiu fazer cursos por correspondência para tirar algumas de suas outras aulas do caminho. Higgins conta que sua professora do ensino à distância entrou em contato com ela e disse: "Sabe, você é uma aluna muito boa. Meu marido é do Rotary. Você já pensou em fazer um intercâmbio?".

Higgins pensou: "O que é Rotary?".

Depois de esclarecer essa dúvida e se interessar pelo programa, lá foi ela para a entrevista do Intercâmbio de Jovens do Rotary. Os entrevistadores deram risada com sua resposta à pergunta sobre onde gostaria de estudar. "Eu disse: 'Nunca estive sequer em um avião. Qual o lugar mais distante a que posso ir?'”, lembra. “Fui selecionada e escolhi a África do Sul por ser uma das opções mais afastadas."

O seu pai anfitrião era um cônsul-geral belga que havia sido nomeado recentemente para atuar em Joanesburgo. Ela estudou francês para se comunicar melhor com os membros da família, e eles se ajudaram mutuamente a se adaptar à África do Sul.

Segundo ela, o status de estrangeira contribuiu para que unisse sua comunidade escolar. Isso foi em 1998, nos primeiros anos após o fim do apartheid. Ela estudou em uma escola só para meninas, frequentada por alunas brancas e negras, que em sua maioria ficavam separadas. Higgins se preparou para mudar isso.

"Eu fazia festinhas e convidava as meninas afrikaners, zulus, britânicas...", conta Higgins, que durante o último ano e meio serviu como líder comunitária na equipe antirracismo da cidade de Calgary. "Essas habilidades foram transferidas para hoje; quer eu esteja trabalhando em um projeto contra a dependência de drogas ou no programa antirracismo, eu consigo envolver todas as pessoas."

De volta a Spruce Grove depois de seu ano no exterior, Higgins mal podia esperar para se juntar novamente ao mundo lá fora. "Na minha infância, eu sempre me senti deslocada", relembra. "Eu queria ser do mundo, mas não sabia como fazer isso".

Em seu último ano na Universidade de Alberta, onde graduou-se em ciências políticas e francês, Higgins tomou conhecimento do programa de Bolsas Rotary pela Paz. Ela o via como seu caminho para a pós-graduação, mas, infelizmente, não conseguiu chegar lá e acabou fazendo um estágio na Bolívia com o Departamento de Assuntos Internacionais do Canadá. "O sonho em relação ao Rotary ficou em segundo plano por um tempo", conta.

À esquerda: Higgins com o rotariano Greg Beatty durante uma visita ao Rotary Club de Bangkok, em 2019. À direita: Nesse mesmo ano, ela visitou o Royal Park Rajapruek, em Chiang Mai, Tailândia, com o Bolsista Rotary pela Paz Samuel McCarthy.

Fotos cedidas por Lorelei Higgins

Ela passou os cinco anos seguintes trabalhando no setor de desenvolvimento – primeiro para o governo canadense e depois para uma de suas organizações não governamentais parceiras. Higgins lista os lugares onde trabalhou: Bolívia, Guiana, Dominica, Finlândia, Polônia, Áustria, Portugal, Brasil e Índia. Seu objetivo não era se tornar diplomata, mas se conectar com as comunidades locais para fazer um trabalho diretamente nas bases. Com essa perspectiva, ela viu os erros que podem ser cometidos por arrogância ou ignorância.

"Certa vez, no norte da Índia, uma grande organização de assistência chegou e entregou centenas de vasos sanitários", relembra. "E a população indiana disse: 'Nós não pedimos vasos'. E eles acabaram se tornando comedouros para galinhas."

Quando tinha 27 anos, Higgins voltou ao Canadá e passou a trabalhar no desenvolvimento de uma estratégia de toxicodependência para a cidade de Calgary. Foi por volta dessa época que ela conheceu seu pai biológico, aprendeu sobre sua ascendência cree e ojibwe, e descobriu que ela é da etnia métis – algo que sempre suspeitou e uma identidade que abraçou alegremente.

Higgins pensou novamente na Bolsa Rotary pela Paz, mas acabou optando por um MBA na Universidade Royal Roads, na província de British Columbia. "Aquela oportunidade do Rotary ficou de lado, mas eu nunca perdi a esperança de que um dia pudesse virar realidade", relata. "E em 2019, 20 anos após ter retornado da África do Sul, finalmente me tornei Bolsista Rotary pela Paz." Ela foi aceita no programa de paz e resolução de conflitos no Centro Rotary pela Paz da Universidade Chulalongkorn, em Bangcoc, Tailândia, voltado a profissionais experientes.

Lá ela aprendeu sobre um dos parceiros do Rotary, o Instituto para Economia e Paz, e seu foco na paz positiva. "Eu estava criando o nosso escritório de Relações Indígenas em Calgary", conta ela. "Minha ideia era pegar os pilares da paz positiva e usá-los no contexto do governo municipal."

Essa abordagem foi fundamental à medida que o movimento " Vidas Negras Importam" se alastrou pelo país. Alguns povos indígenas em Calgary, embora felizes pelo catalisador para combater o racismo, ficaram chateados por não terem recebido o mesmo apoio em sua luta pela igualdade.

"Havia uma divisão", afirma Higgins. "Foi ali que a Lorelei construtora da paz se perguntou: ‘O que eu posso fazer? Onde posso usar os pilares da paz positiva e meu treinamento rotário?’”. E, então, ela fez a transição para o programa antirracismo de Calgary. "Em vez de deixar aquela divisão acontecer, eu entrei em cena e disse: 'Não, nós vamos mudar isso'. Essa é uma abordagem abrangente de consolidação da paz."

E aquele pobre funcionário do concurso de beleza? Ele nem imaginava o que viria pela frente.

Artigo publicado na edição de outubro de 2022 da revista Rotary.

O Grupo Rotary em Ação pela Paz dá aos associados recursos e apoio para avançarem seu trabalho por um mundo mais pacífico e transformarem suas ideias em realidade.