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Natureza e prosperidade

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Com um Subsídio Global da Fundação Rotária, um grupo de mulheres da área rural da Costa Rica usa o ecoturismo para dar um futuro melhor a suas famílias

por Fotografias:

Saindo da pequena cidade de Turrialba, em direção ao leste, na região central e montanhosa da Costa Rica, chega-se a uma cidade menor ainda, chamada Mollejones, que é onde Karen e Evelyn García Fuentes cresceram, em meio à plantação de café do seu pai.

Depois de terminar a faculdade em outra cidade, as irmãs decidiram regressar a Mollejones. Encontrar trabalho perto de casa não era nada fácil, mas Karen tinha ouvido falar de um negócio de criação de borboletas para exportação. Ela, então, foi aprender o que era necessário para ter uma exportadora do gênero e se concentrou em abrir seu próprio negócio. Evelyn juntou-se a ela, e a mãe delas também trabalha na exportadora. Outra irmã cuida do marketing e das mídias sociais, e até o pai das empreendedoras tem cedido cada vez mais espaço da propriedade para a criação das borboletas.

Entre os agricultores, a ideia predominante é de que os filhos têm que sair de casa para estudar e ter sucesso na cidade grande. "Quebramos quebrar esse paradigma, retornando para casa e investindo na nossa comunidade", afirma Karen.


As irmãs García sorriem ao lado da placa colorida que diz Hogar de Mariposas, ou o Lar das Borboletas. Antes de subir um lance de escadas de terra em direção ao santuário das borboletas, a americana Karen McDaniels tira a foto das irmãs e diz que irá colocá-la no panfleto promocional.

Associada do Rotary Club de Denton, nos EUA, McDaniels foi a Mollejones ver o impacto de um Subsídio Global da Fundação Rotária do seu clube, em parceria com o Rotary Club de Cartago, na Costa Rica. O projeto financiado pelo subsídio engloba formação empresarial, aquaponia e eco hotel, e, além das irmãs Garcia, ajuda outras mulheres que abriram uma cooperativa para desenvolver o turismo nesta área com floresta tropical, cachoeiras, borboletas e aves. Os rotarianos formaram parceria com um centro educacional e de pesquisa agrícola conhecido como CATIE, que fica em Turrialba, o qual tem trabalhado com as mulheres há anos.

Até fins do século XX, a economia de Mollejones girava em torno do café e da cana-de-açúcar. Quando os preços destas commodities começaram a cair, a cerca de 20 anos atrás, metade da população foi embora da região. Daí veio a ideia do turismo comunitário. A aldeia fica perto do Río Pacuare, onde se encontram algumas das corredeiras mais famosas do planeta. Em 2011, Mollejones sediou o Campeonato Mundial de Rafting e, no ano seguinte, alguns dos moradores foram ao CATIE para discutir o fortalecimento do turismo local.

Espirituoso, conversador e cheio de energia, Eliécer Vargas, que é professor de turismo sustentável no CATIE, é o elo entre os rotarianos e as mulheres empreendedoras. Também é o contraponto para McDaniels, que é mais reservada e objetiva. Nascida na Arábia Saudita, McDaniels foi educada na Suíça e nos Estados Unidos, e passou a maior parte da sua carreira trabalhando em diferentes países pela 3M. Depois de se aposentar, fundou duas organizações sem fins lucrativos – uma no Camboja e outra na Indonésia – para ajudar as pessoas que tinha conhecido enquanto vivera nesses países. Quando os filhos dos coletores de lixo com quem trabalhava na Indonésia adoeceram por terem bebido água contaminada, ela buscou assistência para eles. Alguém sugeriu a ela que contatasse o Rotary Club de Jakarta Cilandak e sua relação com o Rotary teve início. 

Em 2017, ela entrou para o Rotary Club de Denton, onde liderou o Subsídio Global de ecoturismo. Vargas, que nunca tinha trabalhado com Rotary, não sabia o que esperar. “Não sabia se os rotarianos tinham palavra, mas aí conheci a Karen McDaniels e ela me convenceu que sim. Ela é exigente e cumpre o que diz, e assim também são os demais rotarianos que conheci, pessoas que realmente querem fazer a diferença.”

O projeto financiado pelo subsídio engloba formação empresarial, aquaponia e eco hotel.

O pai de Angie Montoya Fernández era colhedor de café, que é um trabalho de estação. Por não querer ficar longe da família, ele preferiu não ir trabalhar na capital San José, que fica a algumas horas de distância. Em vez disso, ele e a sua mulher aprenderam inglês e tornaram-se guias turísticos.

Angie está na entrada do Monumento Nacional de Guayabo, o maior sítio arqueológico pré-colombiano do país. Um mapa do monumento fica atrás dela e, ao seu lado, o caminho para as ruínas passa por uma floresta tropical. Cerca de 20.000 pessoas visitam o monumento anualmente, e Montoya e sua família são alguns dos guias. Para apoiar outros pequenos empresários locais, a mãe de Angie, Rosa Fernández, teve a ideia de oferecer coisas para os turistas fazerem. Agora, quando as pessoas marcam sua visita a Guayabo, elas podem agendar outras atividades, como uma aula de culinária. "Adoro a história pré-colombiana, mas também precisamos mostrar outras coisas que temos", diz Angie.

É aí que entra a cooperativa de turismo formada por mulheres, chamada RETUS - Red de Emprendedoras del Turismo Sostenible de Turrialba. "O desafio para os grandes operadores turísticos é confiar num pequeno operador ou fornecedor", diz Vargas. "Com a RETUS, acho que este problema pode ser superado."

A cooperativa turística começou como um projeto dos alunos de graduação de Vargas, no CATIE. "Eu queria que eles colocassem a mão na massa, indo além da leitura sobre turismo sustentável", recorda Vargas. Os alunos, que estão no CATIE graças a um programa de mestrado com a Universidade de North Texas, em Denton, começaram a trabalhar com pessoas que viviam nas cidades e aldeias das redondezas. Em Mollejones, por exemplo, eles realizaram oficinas onde os moradores falavam sobre as particularidades da região. Os estudantes transformaram essas conversas em ideias experimentais de visitas guiadas.

Vargas identificou seis mulheres que já trabalhavam no turismo. "Chamo elas de madrinhas”, informa Vargas. Entre elas há mães solteiras que se esforçaram para criar seus filhos e até aprenderam inglês sem ter qualquer educação formal. Uma delas é Rosa Fernández, que serve de exemplo a outras mulheres.

Vargas disse às madrinhas que queria ajudá-las a formar uma cooperativa de turismo, mas cabia a elas escolher as mulheres que fariam parte. Elas foram encorajadas a pensarem em si como mulheres de negócios e a imaginarem o que queriam que acontecesse nas suas comunidades e como poderiam ajudar a tornar esse sonho uma realidade. "Pedi que trouxessem outras mulheres, mas que não lhes dissessem que se tratava de um projeto", diz Vargas. "Diga-lhes que isto é um movimento, que não é para fazerem parte do RETUS porque querem ajudar a si próprias, mas, sim, para ajudar também outras pessoas nas mesmas condições." Três das madrinhas originais decidiram se envolver mais, aumentando o grupo para 18 mulheres logo nas primeiras fases da cooperativa.

O que essas mulheres queriam aprender eram técnicas empresariais, como administração, contabilidade e marketing. Exatamente os tipos de coisas em que os rotarianos são especialistas.

  1. O santuário das borboletas, da família da Karen García Fuentes, tornou-se uma atração turística. “O treinamento do Rotary despertou meu tino comercial”, afirma.

  2. A família Brenese cultiva verduras e tilápia com aquaponia graças a um projeto financiado por Subsídio Global da Fundação Rotária.

  3. As peças criadas por Marielos Salazar Cabezas são vendidas aos turistas.

  4. María Eugenia Brenes Araya (à direita) e suas filhas Alicia e Idali tocam um negócio que inclui pousada, restaurante e cultivo de horta. Com isso, nenhuma delas precisa se mudar para uma cidade maior em busca de emprego.

Marielos Salazar Cabezas trabalha uma bola de argila. Atrás dela, os tons apagados dos baldes cheios de lama contrastam com o brilho das latas de tinta espalhadas pelo seu atelier. Algumas vezes por ano, ela vai às montanhas próximas escavar o solo e retirar o barro, que deve ser sovado, esticado e drenado até a argila se formar. O processo pode demorar até um ano antes do material ter a consistência certa para a artesã fazer as panelas, tigelas, cofrinhos, presépios e outros artefatos que forram as prateleiras do seu estúdio.

Marielos conheceu duas das madrinhas numa feira de artesanato, e foi convidada por elas para integrar a cooperativa de turismo. "Esta é uma grande oportunidade, e recebemos apoio tremendo da cooperativa."

Parte desse apoio veio durante os workshops financiados pelo subsídio. A maioria das aulas foi na sala de reuniões do conselho administrativo do terceiro andar do prédio do CATIE. Durante a aula financeira, Marielos aprendeu a calcular o preço das suas criações. Agora, ela começa com 2 quilos de argila e regista o tempo que trabalha na peça para determinar o custo do seu trabalho.

Ela dá um recibo a McDaniels pela venda de um artigo de cerâmica. No primeiro dia de aula, as alunas receberam um caderno de recibos e uma ficha financeira do custo dos produtos vendidos, entre outras coisas. "Explicamos a importância de se ter organização quando o assunto é finanças", esclarece McDaniels. "Elas agora registram o nome e dados de contato dos seus clientes e cultivam o relacionamento com eles por e-mail."

Como as alunas queriam aprender inglês, os workshops começavam com jogos e exercícios no idioma liderados por Cathy Henderson, do Rotary Club de Denton-Lake Cities, que é corretora de imóveis e também ensina inglês como segunda língua em Denton. "Eu ganhava amostras de perfume, bálsamo labial, loções e doces", recorda Cathy. O curso teve sequência, com as mulheres recebendo mentoria por WhatsApp de rotarianos do Texas.

"Estas mulheres são fenomenais e trabalhadoras", diz Vanessa Ellison, do Rotary Club de Denton Evening, que deu treinamento de marketing e mídias sociais. "Elas têm um conhecimento cultural que certamente interessa aos turistas. Nosso papel era ajudá-las a colocar as coisas em prática."

Marielos contou a McDaniels como o projeto beneficiou as mulheres envolvidas e a comunidade como um todo. Com a prosperidade, ela conseguiu dar chance a outra mulher, contratando-a para fazer faxina na sua casa duas vezes por semana. Os benefícios dos workshops e do Subsídio Global são evidentes também em outros locais.

“O desafio para os grandes operadores turísticos é confiar num pequeno operador ou fornecedor. Com a RETUS, acho que este problema pode ser superado.”

Ao fazer uma avaliação sobre sustentabilidade em Mollejones alguns anos atrás, Vargas e os seus alunos descobriram que os projetos turísticos eram sustentáveis, com uma exceção: a tilápia servida aos hóspedes das pousadas vinha do exterior. Isso motivou Vargas e os alunos a procurarem um fornecedor local do peixe, mas transportar uma pequena quantidade de tilápia não justificava o trabalho.

Vargas tinha alguma experiência com aquaponia – um sistema que combina a criação de peixes com hidroponia, a ciência do cultivo de plantas em água enriquecida com nutrientes – e pensou que este sistema poderia ser a solução. Ele propôs a ideia aos rotarianos, que incluíram quatro sistemas no Subsídio Global, um para cada uma das três comunidades envolvidas e outro para o CATIE. Os rotarianos do Texas e Cartago, assim como os voluntários locais, empenharam-se na construção dos sistemas.

Como é necessário um bom equilíbrio entre o número de peixes e o número de plantas, esta fase do projeto demorou um pouco. Foi dito às mulheres da cooperativa que os sistemas eram para uma pesquisa, e que precisavam se comprometer a usá-los por um ano para ver o que precisava ser aperfeiçoado. Passada esta fase, as mulheres poderiam treinar outras pessoas no uso do sistema.

Brian Glenn, chefe do corpo de bombeiros e presidente eleito do clube de Denton-Lake Cities, deu início a esta fase do projeto. Ele tinha se tornado especialista em pressão da água e mangueiras durante a sua carreira, e esse conhecimento foi posto em uso nos sistemas de aquaponia. "A escala é diferente da que se usa no corpo de bombeiros, mas os conceitos hidráulicos são os mesmos." Os rotarianos planejam fazer um kit com os materiais necessários para iniciar uma horta de aquaponia, que os Rotary Clubs poderiam patrocinar.

María Eugenia Brenes Araya recebeu um dos sistemas na fase experimental. Na sua casa em Guayabo, ela e suas filhas Idali e Alicia estão com camisetas com o logotipo RETUS na frente e os seus nomes nas mangas. A família tem uma pequena casa de dois quartos nos fundos da sua propriedade, onde recebem hóspedes. Os visitantes podem conhecer a horta de aquaponia e outra horta tradicional. Na frente da casa, há uma horta de permacultura, que adota uma abordagem mais localizada e ecologicamente consciente. "Comecei com uma pequena ideia e, quando fui à formação com os rotarianos, descobri que tinha outras coisas para implementar", diz Brenes, que é o tesoureiro da cooperativa.

Idali, de 18 anos, teve a ideia de oferecer refeições aos hóspedes, e já sonha alto pensando em abrir um bufê. Assim como as irmãs García, ela espera que, em vez de se mudar para uma cidade distante, ela possa ter sucesso onde cresceu.

Numa mesa com vista para as hortas, McDaniels, Vargas e outras pessoas sentam-se para saborear o almoço feito por Idali. Ao longe, as imponentes montanhas formam um belo cenário. A refeição, com produtos colhidos das hortas, é espetacular. Isto é, sem dúvidas, o início de uma carreira brilhante.

  1. Noemy Ramírez Nuñez ensina turistas a fazer tortillas. “É autêntico, é como ela faz em casa”, diz a sobrinha Marjorie Moya Ramírez.

  2. Mario Rivera Solano (à esquerda) do Rotary Club de Cartago, Costa Rica; Karen McDaniels, do Rotary Club de Denton, EUA; e Juan Carlos Mendez e Eliécer Vargas, do CATIE, celebram a abertura da Casa da Sustentabilidade.

  3. A casa é um eco hotel para grupos de turistas.

  4. A comunidade de Mollejones envolve as crianças nas atividades voltadas ao turismo.

Ao aproximar-se de uma casa azul-celeste no campus do CATIE, McDaniels diz sorrindo: "Que casa linda!". Esta foi a primeira estrutura construída no campus, em 1942, e, desde então, já serviu de alojamento para funcionários, para estudantes e como escola de espanhol. Infelizmente, ela tinha caído no abandono, sofrido inundação e estava habitada por morcegos. "Quando fiquei aqui no ano passado, acordava com pó que vinha da atividade dos cupins", lembra Lynne Corvaglia, estudante de Toronto que mora e administra a casa.

Há muito tempo que Vargas sonhava em transformar a estrutura dilapidada, a qual chama de Casa da Sustentabilidade. Na fase inicial, McDaniels tinha feito seu “quartel general” aqui, enquanto visitava as cidades vizinhas com os rotarianos de Cartago. Ela viu uma oportunidade de reformar e reestruturar a casa para ser um ecolodge para grupos turísticos e ponto de encontro dos membros do RETUS e convidados. "A Karen é assim", diz Vargas. "Ela é uma pessoa de ação e de negócios, que conecta as coisas."

A renovação da Casa da Sustentabilidade foi o terceiro componente do Subsídio Global. Em julho, rotarianos e interactianos do Texas juntaram-se a rotarianos da Costa Rica, ao RETUS e a voluntários locais no mutirão da reforma. Hoje, o teto de onde caía pó por causa dos cupins foi substituído. A madeira compensada foi removida para revelar as paredes originais. A casa agora tem Wi-Fi de alta velocidade, banheiro com acesso para deficientes e cozinha externa. O plano é contratar alguém para trabalhar na casa e promover o ecoturismo nos arredores. "Com a vinda de mais turistas, as mulheres da RETUS vão ganhar muito", diz Marielos Salazar, que é também a secretária do grupo. "Isto aqui é nosso, e cabe a nós cooperar para o seu crescimento.”

“O modelo tradicional de maximização dos lucros tem os seus limites nas comunidades em que trabalhamos. Temos de falar de empreendedorismo social.”

Marjorie Moya Ramírez, que conduziu o passeio por Mollejones que começou no jardim das borboletas das irmãs García, dá agora as boas-vindas a McDaniels e outros à casa da sua família. Uma veterana, das oficinas de negócios do Rotary, Marjorie mostra as malas que ela, sua irmã e sua mãe fabricam e vendem. “Quando falamos sobre dinheiro", explica Vargas, "elas dizem que o que importa mais são suas famílias e a melhoria da comunidade. O modelo tradicional de maximização dos lucros tem os seus limites nas comunidades em que trabalhamos. Temos de falar de empreendedorismo social."

O dia chega ao fim no centro comunitário de Mollejones com uma típica refeição costa-riquenha: arroz, feijão, carne e salada. Algumas crianças juntam-se ao grupo, e uma garota conta a McDaniels os seus planos de estudar turismo na faculdade e depois voltar para trabalhar perto de casa. Como Karen García disse no início do dia, o ciclo dos filhos irem embora desta pequena cidade para buscar um futuro melhor foi quebrado.

Após a refeição, todos dão as mãos e sentam-se em círculo, cantando uma canção sobre crianças que ajudam outras crianças. Quando o sol se põe atrás das montanhas, algumas meninas levantam-se para dançar. As suas saias rodopiam num brilho de cores, flutuando como lindas borboletas. Elas sorriem, pois sabem que seu futuro será mais promissor por causa do Rotary.

• Artigo originalmente publicado na edição de maio de 2020 da revista The Rotarian

Como ajudar

Este projeto foi financiado por um Subsídio Global da Fundação Rotária. Este tipo de subsídio custeia atividades sustentáveis nas áreas de enfoque do Rotary, com projetos elaborados junto com os moradores, para tratar as suas reais necessidades.

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photography by Ricardo Morales Portillo