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Refugiado concretiza o sonho de abrir uma biblioteca no seu país de origem

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Leo Nupolu Johnson, 15, estava na escola quando o tiroteio começou. Era 18 de setembro de 1998, e o seu país, a Libéria, estava em fase de transição entre duas guerras civis: a que havia terminado em 1997 e a que teria início em 1999. Na capital Monróvia, o presidente liberiano havia lançado um ataque violento para eliminar seus rivais.

Com a aceleração do conflito, Leo fugiu da escola. No caos que se seguiu, ele acabou ficando separado da sua família e, por fim, encontrou abrigo na Costa do Marfim. Vários anos se passariam até que ele pudesse rever a família.

Hoje, com 39 anos e vivendo em Hamilton, no Canadá, Leo reflete sobre o passado. Ao fundar e assumir o cargo de diretor executivo da Empowerment Squared — uma organização sem fins lucrativos que assiste e inspira jovens marginalizados, muitos deles recém-chegados ao Canadá — Leo começou a concretizar o sonho que teve em 2006, quando chegou na América do Norte.

Leo Nupolu Johnson, do Rotary Club de Hamilton, está liderando a iniciativa de abertura de um centro de apoio ao ensino no seu país natal, a Libéria.

Foto: Lucy Lu

“Quando morava na Libéria, eu jamais havia entrado numa biblioteca”, diz ele no vídeo promocional para o Centro Liberiano de Aprendizagem, atualmente em fase de construção nos arredores de Monróvia. “Quando jovem, eu tinha esta vontade imensa de fazer com que nenhuma criança em fase escolar fosse privada de livros e de materiais para seus estudos. Assim, eu resolvi arregaçar as mangas e mudar a realidade das crianças liberianas.”

Em 1998, parecia estar muito longe o dia em que ele poderia materializar essa vontade. Leo ficou no assentamento de refugiados na Costa do Marfim até 2002, quando eclodiu a guerra civil neste país. Ele novamente fugiu e se refugiou em Buduburam, em Gana, assentamento que recebeu aproximadamente 50.000 refugiados liberianos. Uma mãe solteira a quem Leo ajudava frequentemente tinha que preencher um formulário de imigração. Como ela não sabia ler nem escrever em inglês ou francês, Leo cuidou da papelada e serviu de intérprete durante a entrevista. Como resultado, ele foi autorizado a imigrar para o Canadá junto com ela.

Enquanto estudava ciência política na Universidade de McMaster, em Hamilton, Leo notou que muitos jovens refugiados, incluindo alguns da Libéria, abandonavam o ensino médio devido a problemas financeiros, diferenças culturais e traumas pré e pós-migração.

Junto com alguns colegas de universidade, ele deu início a um grêmio estudantil para apoiar e orientar esses jovens estudantes, o qual veio a se tornar a organização Empowerment Squared. “Meu objetivo principal era apoiar os recém-chegados e a comunidade negra, que sofria com a pobreza e marginalização.”

Depois de formado, Leo estagiou na Universidade McMaster e trabalhou em um banco . Em 2014, dedicou-se em tempo integral à Empowerment Squared, apesar das dificuldades financeiras iniciais. “Em 2015, eu era o único na folha de pagamento da Empowerment Squared. Hoje, estamos com 15 funcionários em duas localidades.”

Na última década, a Empowerment Squared apoiou mais de 5.000 jovens e famílias recém-chegados ao Canadá, e está transformando o sonho do Leo em realidade. 

Leo conheceu o Rotary em 2010. Depois de ajudar em vários projetos rotários, ele decidiu apresentar ao Rotary Club de Hamilton a sua ideia para a construção do Centro Liberiano de Aprendizagem. Paul Takala, chefe da Biblioteca Pública de Hamilton e membro da Comissão de Serviços Internacionais do clube, estava presente numa das apresentações do Leo.

“Quando soube dos seus planos, logo percebi que a conexão natural do Leo com a Libéria e a sua experiência no Canadá o qualificavam a empreender algo significativo e sustentável”, lembra Paul. Atualmente, a Biblioteca Pública de Hamilton é um dos maiores apoiadores do Centro Liberiano de Aprendizagem.

  1. Leo na frente da casa onde morava, em Paynesville, na Libéria.

    Foto cedida por Leo Nupolu Johnson

  2. Leo com sua família antes do conflito na Libéria, que o fez fugir do país em 1998.

    Foto cedida por Leo Nupolu Johnson

Em 2019, dois anos após Leo ter se associado ao Rotary Club de Hamilton, Paul foi com ele à Libéria para a cerimônia oficial de inauguração do centro. “A resiliência do povo liberiano e sua profunda conexão com Leo e o seu trabalho eram palpáveis”, recorda Paul. “Podemos ajudar as pessoas a melhorar seu mundo, e se fizermos isso com um senso de reciprocidade, onde todas as partes aprendem e crescem, muitos pequenos milagres passam a acontecer.”

Segundo Leo 12 Rotary Clubs, localizados em Ontário e na Libéria, contribuíram mais de US$ 30.000 ao centro de aprendizagem. Em 2020 o clube de Hamilton, em parceria com o Rotary Club de Monrovia – que está arrecadando fundos para abrir uma sala na biblioteca dedicada às sete áreas de enfoque do Rotary – conseguiu um Subsídio Global de US$ 87.000 para financiar a instalação de uma rede de energia solar para o centro. Em julho, Leo estimou que a primeira fase da construção do centro deverá ser concluída nos próximos 18 a 20 meses.

“No Rotary, o princípio da assistência é acompanhado do princípio de sustentabilidade”, afirma Leo. A energia solar combina estes dois princípios, assim como os planos de oferecer aulas de desenvolvimento pessoal e profissional, ensino digital, treinamento em informática e em empreendedorismo. Um centro de incubação de pequenas empresas, uma instalação de recreação interna e a renovação de um centro de conferências existente no local também fazem parte do projeto.

Leo voltou a se reunir com a sua família, que continua vivendo na Libéria, e está orgulhoso em ver seu sonho se tornar realidade. “Espero poder inspirar meus compatriotas com este centro de aprendizagem”, diz Leo confiante. “O meu exemplo demonstra que podemos liderar a reconstrução do nosso país e injetar prosperidade socioeconômica de forma sustentável através da inovação, colaboração e iniciativas culturalmente responsáveis.” 

Artigo publicado originalmente na edição de setembro de 2022 da revista Rotary.


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